A saúde mental é um assunto que está muito em alta. Pesquisas indicam que essa é uma preocupação cada vez mais presente na vida dos brasileiros. Porém, quando se fala em saúde mental de pessoas idosas, muitas vezes, o assunto é negligenciado.
O Observatório Nacional da Família, divulgado em 2022, aponta que os idosos têm maior prevalência de depressão no Brasil. Segundo o relatório, 13,2% de pessoas entre 60 e 64 anos haviam sido diagnosticadas com depressão em 2019. Essa foi a faixa etária mais afetada.
A doutora Andrea Prates destaca que, muitas das vezes, os problemas mentais são atribuídos à idade. Envelhecer não significa ficar deprimido e acreditar nisso pode ser um sinal de etarismo. “A questão da saúde mental de pessoas idosas está muito relacionada com o modo que elas são percebidas na sociedade. Não é à toa que estamos na década do envelhecimento saudável, trabalhando exatamente a questão do etarismo”, pontua a médica geriatra e gerontóloga que atua no ramo há 40 anos.
O etarismo contribui para a piora da saúde mental de pessoas idosas?
De acordo com a doutora Andrea, estudos mostram que o preconceito de idade influencia diretamente nas condições psiquiátricas. Por isso, evitar o idadismo é a primeira estratégia para combater o modo que pensamos, sentimos e agimos em relação às pessoas mais velhas. “Esse idadismo tem um impacto muito grande na saúde mental das pessoas”, completa a especialista.
“Essa história do julgamento de ‘ser velho demais para isso ou para aquilo’ atrapalha. As pessoas deixam de se expressar como elas são, independentemente da idade. Isso é um direito de todo ser humano.”
Uma análise, realizada pela pela Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo 422 estudos de 45 países, também reforça o que a doutora Andrea pontuou. Em 96% dos estudos fica evidente que o etarismo é um dos fatores associados à deterioração da saúde mental. De acordo com a análise, um estudo Alemão revelou que percepções negativas sobre o envelhecimento aceleram a perda cognitiva.
Ou seja, ter uma visão negativa do envelhecimento, reflexo do preconceito de idade, também provoca uma piora na saúde mental de pessoas idosas. “A pessoa que é muito exposta a essas questões de preconceitos com relação à idade acaba tendo sua capacidade cognitiva alterada”, pontua Andrea.
“Não é só uma questão da pessoa idosa. É preciso reformular o modo que vemos as pessoas mais velhas. É preciso mudar essa cultura da longevidade e não normalizar a depressão, por exemplo, associada à velhice”.
Envelhecer não é sinônimo de doença
Andrea Prates comenta que familiares tendem a acreditar que é normal que pessoas mais velhas tenham depressão. Porém, é preciso destacar que depressão é uma doença, com mecanismos biológicos, que afeta a saúde mental. E as condições externas, como falta de apoio ou discriminação, são fatores que podem piorar a saúde mental de pessoas idosas.
“Não podemos esquecer das questões de abuso, de negligência, onde o principal agressor é sempre alguém da família. Principalmente com as mulheres, que são mais vítimas de casos de agressão”, comenta a médica gerontóloga. Esses fatores também contribuem para uma piora no quadro mental.
A médica ressalta que, por questões como essa, o atendimento para pessoas mais velhas precisa ser diferenciado. “É preciso tentar levar, por exemplo, essa pessoa em alguém que esteja preparado para atendê-la. Preparado para discriminar exatamente o que está acontecendo. Em que condição essa pessoas estão envelhecendo?”, comenta.
É preciso olhar para a pessoa idosa de forma diferenciada
A depressão, o estresse e a ansiedade são condições presentes na sociedade moderna. Dados da OMS mostram que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas, representando 9,3% da população. Por esse motivo, falar sobre saúde mental é de extrema importância.
A saúde mental de pessoas idosas, porém, precisa de uma atenção. Andrea pontua que “as pessoas mais velhas que ainda têm um isolamento social maior, condicionado por todas essas questões, sofrem muito mais”.
Para identificar problemas psicológicos e cognitivos, porém, é necessário o preparo profissional para atender as pessoas mais velhas. De acordo com a especialista, é necessário um olhar mais “gerontólogo” para que o diagnóstico seja mais amplo e assertivo.
O preparo para o futuro também depende da própria pessoa idosa
O preconceito etário pode estar enraizado em todas as pessoas, independentemente da idade. Logo, uma pessoa idosa pode sofrer etarismo e, ao mesmo tempo, acreditar e compactuar com ele. Encarar o envelhecimento pode não ser uma atitude simples para muitos.
E, para envelhecer com qualidade, é necessário uma visão de vida ampla, com planejamento e uma boa perspectiva de futuro. Com isso, a médica gerontóloga questiona:
“Como você encara o seu próprio envelhecimento? Você se preparou para esse envelhecimento em termos financeiros, de saúde, de qualidade de vida? Porque essas coisas todas, quando não são bem elaboradas durante a vida, elas acabam se complicando no fim dela. E isso é muito comum de se acontecer.”
Entender o próprio papel dentro da família é um dos pontos citados pela especialista para lidar de uma melhor forma com o envelhecimento. Como ser útil, interessante, ativo, dentro do seu contexto familiar e social? A médica ressalta que existem diversos benefícios da convivência intergeracional, por exemplo. “As pessoas mais velhas contribuem de muitas formas. Não só tomando conta dos netos, mas com uma série de coisas. Além de terem a própria vida e suas próprias atividades”, reforça.
Expor os sentimentos é necessário
A comunicação é de extrema importância e é uma maneira de expressar questões pessoais. Porém, esse não é um hábito muito comum para pessoas idosas. Para a doutora Andrea, é importante abrir espaços de diálogos para que pessoas idosas se sintam à vontade para expressar seus sentimentos.
“Não estamos habituados a falar sobre os nossos sentimentos. Falar sobre a nossa condição emocional ou como nós estamos nos sentindo. É importante abrir espaços para essas conversas e ter espaço de escuta. Porque as pessoas idosas, às vezes, não têm nem quem as ouça. Mas é necessário ouvir sem julgamento.”
A experiência ao longo da vida promove trocas enriquecedoras. Mas é preciso que exista diálogo para alimentar essa socialização. Além disso, a médica ainda destaca que o autocuidado é fundamental para a saúde mental de pessoas idosas. Algo que é pouco falado, mas que é capaz de trazer diversos benefícios.
Em outra perspectiva, a doutora Andrea ainda atribui o perdão como um fator essencial para a criação de relações. Algumas pessoas, ao longo da vida, erguem barreiras emocionais. Isso, por sua vez, pode resultar em uma tristeza crescente, levando à depressão. Para envelhecer de maneira mais leve, também é preciso lidar com essas questões. Independentemente da idade, há sempre benefícios nessa atitude.
“Envelhecer também é um processo de crescimento e de desenvolvimento. A construção dessas relações, à medida que envelhecemos, é muito importante para a saúde mental”, reforça a especialista.
Fonte: Redação do Instituto de Longevidade
Artigo original: https://x.gd/i3Zd2
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