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O que é a regulação emocional? Há mudanças no envelhecimento?

A regulação emocional é um processo complexo que envolve a capacidade de monitorar, avaliar e modular as próprias emoções em resposta a diferentes situações e contextos. Essa habilidade permite que as pessoas controlem e adaptem suas respostas emocionais de acordo com as demandas do ambiente, contribuindo para o bem-estar psicológico e a adaptação ao longo do curso de vida.

À medida que envelhecemos, é natural que ocorram mudanças na regulação emocional. Estudos têm demonstrado que pessoas idosas  apresentam uma maior tendência em relação a estabilidade emocional em comparação com adultos mais jovens, além de experimentarem menos oscilações extremas de humor.

De acordo com Batistoni e colaboradores (2009), pessoas idosas frequentemente demonstram respostas distintas em comparação com fases anteriores da vida, influenciadas por suas histórias prévias de funcionamento e suas experiências de sucesso ou erro. Essa análise ressalta a complexidade das reações emocionais e comportamentais entre os idosos, as quais podem ser influenciadas por suas experiências acumuladas ao longo do tempo e sua habilidade de se adaptar a novas circunstâncias.

Além disso, Cachioni e colaboradores (2021) sugerem que os idosos podem interpretar a vida de maneira mais positiva e reagir de forma mais intensa e prolongada aos eventos positivos, especialmente aqueles que experimentaram mais eventos positivos do que negativos ao longo de suas vidas. Essa tendência pode ser atribuída ao acúmulo de memórias positivas, influenciando sua perspectiva emocional e resiliência diante das adversidades.

No vídeo Laura Carstensen intitulado: Os idosos são mais felizes, disponível no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=7gkdzkVbuVA&feature=youtu.be, a pesquisadora e grande estudiosa dos aspectos socioemocionais do envelhecimento: Laura Carstensen relata que os idosos parecem encarar a tristeza mais confortavelmente, ou seja, lidam melhor com esse sentimento em comparação aos mais jovens, e isso pode estar relacionado ao fato dos idosos solucionarem melhor os conflitos.

Outra informação interessante relata no vídeo mencionado anteriormente é que se tudo estiver correndo bem, os idosos direcionam os seus recursos cognitivos para uma informação mais positiva do que negativa, Laura Carstensen apresenta dois exemplos:

  • Se mostrarmos para as pessoas jovens, adultas e idosas, imagens que retratam inúmeras emoções e pedirmos para lembrar das imagens que puderem, os idosos lembraram mais das imagens positivas do que das negativas;
  • Se pedimos a jovens e idosos observarem rostos em estudos laboratoriais, os idosos olham em direção aos rostos sorridentes e não para os rostos sérios e zangados.

Ao discutir as respostas emocionais da população idosa, é fundamental considerar como essas respostas podem ser influenciadas pelas mudanças físicas, cognitivas e sociais associadas ao envelhecimento. Com o avançar da idade, é comum observar uma maior tendência dos idosos para interpretar a vida de maneira positiva, apesar dos desafios que possam enfrentar. Nesse sentido, eles podem valorizar mais as experiências positivas e desenvolver uma maior capacidade de lidar com adversidades de forma adaptativa.

Por outro lado, é importante reconhecer que a pessoa idosa também enfrenta desafios emocionais, como perdas de entes queridos, problemas de saúde e mudanças nas circunstâncias de vida. Esses eventos podem desencadear emoções negativas, como tristeza, ansiedade ou solidão. No entanto, muitos idosos demonstram uma notável capacidade de adaptação e recuperação emocional, buscando apoio social, utilizando estratégias de enfrentamento eficazes e encontrando novas fontes de significado e satisfação na vida.

Ademais, é importante ressaltar que a regulação emocional também pode ser influenciada por fatores culturais e sociais. Assim, as diferentes culturas possuem normas e valores específicos em relação à expressão e controle das emoções, o que pode moldar as estratégias de regulação emocional adotadas pelas pessoas.

Logo, o contexto social em que as pessoas estão inseridas, como família, comunidade e ambiente de trabalho, pode afetar suas práticas de regulação emocional. Portanto, ao considerar as mudanças na regulação emocional durante o envelhecimento, é essencial levar em conta também esses aspectos culturais e sociais, que desempenham um papel significativo na forma como as pessoas lidam com suas emoções ao longo da vida.

Portanto, ao considerar as mudanças na regulação emocional durante o envelhecimento, é fundamental reconhecer a diversidade das respostas emocionais dos idosos e a importância de promover estratégias de enfrentamento adaptativas que fortaleçam o bem-estar emocional e a qualidade de vida na população idosa.

 

Referências:

 

BATISTONI, Samila Sathler Tavares. (2009). Contribuições da Psicologia do Envelhecimento para as práticas clínicas com idosos. Psicologia em Pesquisa, 3(02), 13-22. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psipesq/v3n2/v3n2a03.pdf. Acesso em 16 fev. 2024.

 

CACHIONI, Meire et al. (2021). Fatores Preditores de Bem-estar em Idosos Participantes de uma UATI. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 37, p. e37102, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102.3772e37102. Acesso em: 16 fev. 2024.

 

Autores:

Laydiane Alves Costa – Gerontóloga pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-graduanda em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) , membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETEC). Assessora científica do projeto de pesquisa de validação do Método SUPERA.

 

Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva. Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo (GETCUSP).

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