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Neuroplasticidade e neurogênese no processo de envelhecimento e em relação à pessoa idosa

Se você acha que sua idade é um impeditivo para aprender um novo idioma, uma nova profissão, aprender a cozinhar ou a tocar um instrumento musical, por exemplo, está na hora de mudar seus conceitos e pôr a mão na massa!

É fato que, à medida que envelhecemos, nosso cérebro passa por mudanças biológicas e isso se traduz na forma como processamos as nossas habilidades mentais, estando muitas vezes mais lentificada do que quando somos mais jovens. Entretanto, um número crescente de pesquisas na área das neurociências tem mostrado, nas últimas décadas, um potencial de preservação de nosso desempenho cerebral mesmo na velhice avançada, o que era desconhecido anteriormente.

Um dos principais neurocientista das neurociências modernas, o espanhol Ramón y Cajal destacou em seus estudos que datam do período de 1928, que o sistema nervoso é um sistema dinâmico, e em constante modificações estruturais e de suas conexões toda vez que estimulado. Descreveu que é possível nascerem novos neurônios no decorrer dos anos de vida do indivíduo, sendo um de seus principais achados ao longo das décadas, o nascimento de novos neurônios em adultos.

Esses estudos se baseiam no conceito da neuroplasticidade, isto é, a capacidade que nosso cérebro possui de mudar, mantendo e/ou aprimorando sua funcionalidade, em resposta tanto a demandas internas como a experiências externas. Com base neste conceito, uma grande variedade de pesquisas indica que por meio de intervenções cognitivas, como o treino cognitivo e/ou estimulação cognitiva, é possível aprimorar nosso desempenho cognitivo e aproximá-lo do máximo possível.

Os benefícios dessas intervenções e, portanto, a constatação da neuroplasticidade, são verificados por meio de testes ou tarefas que avaliam o desempenho cognitivo, como também por meio de instrumentos de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional, que aponta as regiões cerebrais que são estimuladas e efetivamente modificadas ao longo de programas de treino. Alguns estudos realizam repetidas baterias de avaliação e identificam, inclusive, a manutenção dos benefícios mesmo alguns anos após o término da intervenção.

A neuroplasticidade está associada a outro grande avanço, considerado um marco na área da neurociência, que é a descoberta da possibilidade da geração, em regiões cerebrais de pessoas adultas, de novas células que se transformam em neurônios funcionalmente integrados, ou seja, a neurogênese.
Este fenômeno, até recentemente considerado restrito ao desenvolvimento pré-natal e do recém-nascido, não ocorre, porém, de uma hora para outra.

Desde o seu nascimento, nossas células dependem de vários fatores que regulam seu desenvolvimento, sua proliferação e integração ao funcionamento do organismo. No caso dos neurônios, o conhecimento sobre essa dinâmica vem sendo construído também por um número
crescente de estudos, os quais associam a neurogênese a fatores ambientais e/ou comportamentais, que afetam aspectos relacionados à nossa aprendizagem e à nossa memória.

De acordo com os neurocientistas, essas funções cognitivas podem ser favorecidas pelo aumento da neuroplasticidade decorrente da incorporação, nas redes neurais existentes, de novos neurônios funcionais gerados por adultos em seu hipocampo, uma área do cérebro localizada na parte lateral, na altura das orelhas.

Os pesquisadores explicam que esses novos neurônios desempenham um importante papel na associação de estímulos no espaço e no tempo, bem como em diferentes fases (aquisição, recuperação de consolidação e posterior atualização) da formação da memória declarativa.
Este tipo de memória refere-se à nossa capacidade de representar eventos na ordem temporal e no contexto em que ocorreram (memória episódica, de experiências do dia a dia), informações sobre o mundo (memória semântica, como significados das palavras) e a representação de ambientes espaciais permitindo uma orientação eficaz (memória espacial).

Finalmente, segundo os cientistas, uma abordagem promissora relacionada a novos métodos terapêuticos para o tratamento de doenças mentais e neurodegenerativas é a modulação da neurogênese, que pode ser realizada tanto por meio de manipulações farmacológicas, com alguns antidepressivos ou antipsicóticos, como por intervenções não-farmacológicas, como treino cognitivo e exercícios físicos.

A neuroplasticidade e a neurogênese representam, portanto, importantes recursos que temos para a formação de reserva cognitiva, gerando ganhos diretos para a manutenção da nossa autonomia e da nossa independência e, consequentemente, para a promoção da saúde e da qualidade de vida, garantindo a continuidade de nossa capacidade de adquirir novos conhecimentos ao longo de toda a vida e, assim, de concretizar sonhos relacionados a novas potencialidades pessoais. E lembrem-se neurônios não irão morrer por excesso de atividades, por isso exercite o seu cérebro para ter uma vida ativa e saudável no decorrer do processo de envelhecimento.

 

Referências
Bruel-Jungerman, E., Rampon, C., & Laroche, S. (2007). Adult hippocampal neurogenesis, synaptic plasticity and memory: facts and hypotheses. Reviews in the Neurosciences, 18(2), 93-114.
Castilla-Ortega, E., Pedraza, C., Estivill-Torrús, G., & Santín, L. J. (2011). When is adult hippocampal neurogenesis necessary for learning? Evidence from animal research. Rev. Neurosci., 22(3): 267–283.
Leung, N. T., Tam, H. M., Chu, L. W., Kwok, T. C., Chan, F., Lam, L. C., … & Lee, T. (2015). Neural plastic effects of cognitive training on aging brain. Neural plasticity, 2015.

Autores:

Mauricio Einstoss de Castro Barbosa – Graduado em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), com participação no Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde/Interprofissionalidade), teve atuação como estagiário de Gerontologia na Coordenação de Políticas Para a Pessoa Idosa – Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania – Prefeitura de São Paulo.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva – Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. E assessora científica e consultora do Método SUPERA.

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