Tádzio França
Repórter
As quedas acidentais são a terceira causa não-natural de mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos. E a maior parte desses acidentes acontece dentro de casa. Um dos maiores obstáculos para os idosos, além dos físicos, é a falta de informação sobre os cuidados que poderiam ser tomados para se evitar esses incidentes. Foi após ouvir vários depoimentos sobre o fato, que o Instituto do Envelhecer (IEN) da UFRN criou o jogo ‘Minha Casa Segura’, uma forma lúdica, embasada e acessível de prevenção.
O ponto de partida para a criação do jogo foi um estudo realizado entre 2019 e 2023, que pesquisou as condições de moradia de idosos servidores da UFRN. “Um dado que nos chamou atenção e serviu de gancho foi a questão das quedas, um fato bem recorrente entre as pessoas ouvidas. A partir daí resolvemos levar aos grupos de pessoas idosas conhecimentos acerca de prevenção”, explica Kadma Maia, assessora técnica do IEN.
Para transformar a pesquisa sobre saúde, bem-estar e envelhecimento em algo que pudesse chegar à comunidade de forma funcional, foi criado o projeto de extensão ‘Jogos Educativos como Ferramenta de Educação para o Autocuidado da Pessoa Idosa’, posto em prática em março deste ano. Foi criada então uma equipe multidisciplinar formada por professores e alunos de farmácia, odontologia, fonoaudiologia, saúde coletiva e comunicação social, além de servidores técnico-administrativos e profissionais voluntários.
O desenvolvimento dos jogos aborda temas de prevenção contra acidentes domésticos e doenças, trabalhando as informações de forma lúdica. “A ideia é levar para campo esse conteúdo rico e ao mesmo tempo acessível, que seja fácil de compreender pelas pessoas idosas, fácil de ser incorporada ao seu cotidiano”, diz a assessora técnica. Ela complementa que, além de levar conhecimento, também proporciona aos idosos momentos de integração, socialização, e troca de experiências.
O jogo
O ‘Minha Casa Segura’ é jogo em formato de tabuleiro, estruturado para que os participantes se organizem em grupos, representando diferentes cômodos da casa, enquanto retiram cartas que levantam questões sobre riscos de queda e segurança. O tabuleiro é grande, com cores vivas, e fontes claras para que os idosos possam visualizar bem. Há dados e pinos coloridos para jogar.
Durante a dinâmica, os jogadores discutem as situações apresentadas, compartilhando experiências pessoais e identificando riscos em seus lares. A cada rodada, os grupos colaboram para desenvolver estratégias de prevenção, refletindo coletivamente sobre a segurança no ambiente doméstico.
Cada espaço do jogo é um cômodo da casa: o jogador entra pela sala, passa pela cozinha, vai aos quartos e banheiros, etc., sempre interagindo. “Há cartas com perguntas referentes à casa do tabuleiro onde o pino caiu. Se o jogador não souber responder, a gente pergunta aos demais. Dependendo da resposta, os alunos e professores intervêm, explicando ou orientando sobre a forma correta de prevenir os acidentes”, explica Kadma.
A partir dos jogo e das interações dos participantes idosos com ele, é possível traçar os pontos que podem ser trabalhados em cada um conforme suas necessidades. “A gente joga junto com eles, pergunta se está certo ou errado, se o tapete que ele usa é anti-derrapante, se tem uma barra no banheiro pra tomar banho, se o vaso sanitário está na altura ideal, se ele sabe que o excesso de móveis ou o uso de armários numa certa altura provocam acidentes, entre outras coisas”, diz.
A casa segura
Por ser um jogo totalmente baseado em fatos reais, o conteúdo reflete os cuidados que uma residência comum deve ter para evitar as quedas acidentais de idosos. “É preciso estar atento a uma série de detalhes”, afirma Kadma. É preciso evitar móveis pontiagudos porque muitos dos idosos têm problemas de diabetes, e o choque pode causar ferimentos; a orientação é que os móveis devem ser mais arredondados. Deve-se observar a altura dos assentos da cadeira e do sofá; que o tapete seja anti-derrapante; observar a posição do interruptor de luz, já que os idosos se levantam muito à noite para ir ao banheiro.
Os banheiros devem estar adaptados com um piso anti-derrapante, tapetes emborrachados, suportes de apoio no box e sanitário, e também o vaso na altura certa. Evitar também móveis cortantes na cozinha, a altura dos armários pra não subir no banquinho, evitar tapetes de pano embaixo da pia, e estar atento ao acesso ao gás do fogão, evitar batentes dentro de casa.
Em fevereiro de 2024, a equipe do IEN conduziu uma ação educativa com 20 participantes de um grupo de convivência de idosos em uma Unidade de Saúde da Família no Conjunto Santarém. Na atividade, os idosos discutiram possibilidades de quedas e fatores de proteção em casa, refletindo sobre como podem ajudar a eliminar ou reduzir riscos nos lares.
Segundo Wilton Medeiros, vice-diretor do IEN, o próximo passo é transformar o ‘Minha Casa Segura’ em um produto que possa atingir maior alcance. “Nossos jogos são criados de uma forma muito artesanal, então queremos dar uma forma melhor a eles, levar para uma gráfica. Eles são produzidos a partir de um projeto de extensão, portanto são cadastrados na pró-reitoria de extensão como um produto”, diz.
A partir daí o material pode ser levado para qualquer comunidade afim de ser trabalhados em abrigos, projetos comunitários, e diversos grupos de pessoas idosas de qualquer lugar. “Cada jogo vem com um manual específico, explicando como funciona, portanto, podem ser reproduzidos e adaptados, utilizados por qualquer pessoa interessada no assunto”, afirma o diretor.
Há outros jogos desenvolvidos e em desenvolvimento, segundo Kadma. “Há jogos sobre memória, sobre higiene bucal, limpeza da prótese, e prevenção de doenças de boca. E também sobre doenças auditivas, higienização correta de ouvidos, etc. Tudo isso se relaciona ao universo cotidiano do idoso. O objetivo maior dos jogos realmente é a educação para o autocuidado”, diz.
Envelhecer
Projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que até o ano de 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos no mundo deverá atingir a marca de dois bilhões, ou seja, um em cada cinco indivíduos será idoso. Em 2022, o Brasil registrou um aumento significativo na população idosa. Atualmente, estima-se que essa parcela da população tenha aumentado ainda mais, chegando a 15,8%.
O ‘Minha Casa Segura’ é um jogo de tabuleiro estruturado para que os participantes se organizem em grupos e levantem questões sobre riscos de queda e segurança | Foto: Cedida
O ponto de partida para a criação do jogo foi um estudo realizado entre 2019 e 2023, que pesquisou as condições de moradia de idosos servidores da UFRN. “Um dado que nos chamou atenção e serviu de gancho foi a questão das quedas, um fato bem recorrente entre as pessoas ouvidas. A partir daí resolvemos levar aos grupos de pessoas idosas conhecimentos acerca de prevenção”, explica Kadma Maia, assessora técnica do IEN.
Para transformar a pesquisa sobre saúde, bem-estar e envelhecimento em algo que pudesse chegar à comunidade de forma funcional, foi criado o projeto de extensão ‘Jogos Educativos como Ferramenta de Educação para o Autocuidado da Pessoa Idosa’, posto em prática em março deste ano. Foi criada então uma equipe multidisciplinar formada por professores e alunos de farmácia, odontologia, fonoaudiologia, saúde coletiva e comunicação social, além de servidores técnico-administrativos e profissionais voluntários.
O desenvolvimento dos jogos aborda temas de prevenção contra acidentes domésticos e doenças, trabalhando as informações de forma lúdica. “A ideia é levar para campo esse conteúdo rico e ao mesmo tempo acessível, que seja fácil de compreender pelas pessoas idosas, fácil de ser incorporada ao seu cotidiano”, diz a assessora técnica. Ela complementa que, além de levar conhecimento, também proporciona aos idosos momentos de integração, socialização, e troca de experiências.
O jogo
O ‘Minha Casa Segura’ é jogo em formato de tabuleiro, estruturado para que os participantes se organizem em grupos, representando diferentes cômodos da casa, enquanto retiram cartas que levantam questões sobre riscos de queda e segurança. O tabuleiro é grande, com cores vivas, e fontes claras para que os idosos possam visualizar bem. Há dados e pinos coloridos para jogar.
Durante a dinâmica, os jogadores discutem as situações apresentadas, compartilhando experiências pessoais e identificando riscos em seus lares. A cada rodada, os grupos colaboram para desenvolver estratégias de prevenção, refletindo coletivamente sobre a segurança no ambiente doméstico.
Cada espaço do jogo é um cômodo da casa: o jogador entra pela sala, passa pela cozinha, vai aos quartos e banheiros, etc., sempre interagindo. “Há cartas com perguntas referentes à casa do tabuleiro onde o pino caiu. Se o jogador não souber responder, a gente pergunta aos demais. Dependendo da resposta, os alunos e professores intervêm, explicando ou orientando sobre a forma correta de prevenir os acidentes”, explica Kadma.
A partir dos jogo e das interações dos participantes idosos com ele, é possível traçar os pontos que podem ser trabalhados em cada um conforme suas necessidades. “A gente joga junto com eles, pergunta se está certo ou errado, se o tapete que ele usa é anti-derrapante, se tem uma barra no banheiro pra tomar banho, se o vaso sanitário está na altura ideal, se ele sabe que o excesso de móveis ou o uso de armários numa certa altura provocam acidentes, entre outras coisas”, diz.
A casa segura
Por ser um jogo totalmente baseado em fatos reais, o conteúdo reflete os cuidados que uma residência comum deve ter para evitar as quedas acidentais de idosos. “É preciso estar atento a uma série de detalhes”, afirma Kadma. É preciso evitar móveis pontiagudos porque muitos dos idosos têm problemas de diabetes, e o choque pode causar ferimentos; a orientação é que os móveis devem ser mais arredondados. Deve-se observar a altura dos assentos da cadeira e do sofá; que o tapete seja anti-derrapante; observar a posição do interruptor de luz, já que os idosos se levantam muito à noite para ir ao banheiro.
Os banheiros devem estar adaptados com um piso anti-derrapante, tapetes emborrachados, suportes de apoio no box e sanitário, e também o vaso na altura certa. Evitar também móveis cortantes na cozinha, a altura dos armários pra não subir no banquinho, evitar tapetes de pano embaixo da pia, e estar atento ao acesso ao gás do fogão, evitar batentes dentro de casa.
Em fevereiro de 2024, a equipe do IEN conduziu uma ação educativa com 20 participantes de um grupo de convivência de idosos em uma Unidade de Saúde da Família no Conjunto Santarém. Na atividade, os idosos discutiram possibilidades de quedas e fatores de proteção em casa, refletindo sobre como podem ajudar a eliminar ou reduzir riscos nos lares.
Segundo Wilton Medeiros, vice-diretor do IEN, o próximo passo é transformar o ‘Minha Casa Segura’ em um produto que possa atingir maior alcance. “Nossos jogos são criados de uma forma muito artesanal, então queremos dar uma forma melhor a eles, levar para uma gráfica. Eles são produzidos a partir de um projeto de extensão, portanto são cadastrados na pró-reitoria de extensão como um produto”, diz.
A partir daí o material pode ser levado para qualquer comunidade afim de ser trabalhados em abrigos, projetos comunitários, e diversos grupos de pessoas idosas de qualquer lugar. “Cada jogo vem com um manual específico, explicando como funciona, portanto, podem ser reproduzidos e adaptados, utilizados por qualquer pessoa interessada no assunto”, afirma o diretor.
Há outros jogos desenvolvidos e em desenvolvimento, segundo Kadma. “Há jogos sobre memória, sobre higiene bucal, limpeza da prótese, e prevenção de doenças de boca. E também sobre doenças auditivas, higienização correta de ouvidos, etc. Tudo isso se relaciona ao universo cotidiano do idoso. O objetivo maior dos jogos realmente é a educação para o autocuidado”, diz.
Envelhecer
Projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que até o ano de 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos no mundo deverá atingir a marca de dois bilhões, ou seja, um em cada cinco indivíduos será idoso. Em 2022, o Brasil registrou um aumento significativo na população idosa. Atualmente, estima-se que essa parcela da população tenha aumentado ainda mais, chegando a 15,8%.
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