por Ricardo Pessoa
Estes dias a Fran Winandy publicou um post perguntando quando você se descobriu velho.
A coisa de se entender velho vem aos poucos, pelo menos veio assim para mim. Primeiro, deixei de ser você. O primeiro “senhor” foi meio na mesma época do primeiro “tio”, que, se bem me lembro, foi pronunciado por alguém que eu estava, na minha cabeça, paquerando.
Poraí eu comecei a encaretar, entrando na do tio da sukita assumidamente. Sabe o modelito maduro descolado? Trocando camiseta por pólo (mais solta na cintura rs), Banana Republic e que tais.
E continuando a me ver com 27 anos no espelho. Como comentou o Martin Henkel na primeira pesquisa sobre consumidor senior que vi, a gente fixa a auto imagem por volta dos 20-30 e fica com ela forever.
Já tava acostumado com isso e achando que tava tudo ok, auto imagem forte no espelho e bem satisfeito com o modelito senhor/tio moderninho, “xoven”, quando veio a próxima porrada: alguém se levanta para me dar lugar no metrô. E o mundo cai de novo.
Pô, como aquele cara pôde achar que eu preciso me sentar??? Marcou.
O tempo passa, a auto-imagem se regenera, agora embalada pelas comodidades 60+. De repente, filas diminuem, entro primeiro no avião, transporte público é de graça, pago meia no cinema, e estaciono sempre perto da entrada. Ah, e se não dão lugar espontaneamente, peço e faço bullying.
Aí chegou o Rubicão.
Para mim foi há umas semanas, quando me internei para realizar um exame, daqueles de preparo chato. A enfermeira virou para mim e despachou a porrada: tira a blusa, que eu preciso fazer um acesso no seu “bracinho”.
Me lembrei do Rafael, que conheci no Lab60+, onde ele emparceirava com a Mariam Dimitri na Uni-Diversidade. Um cara alto, sem limitações físicas, motivado e ativo, um líder natural. Numa das primeiras vezes em que o ouvi falar, ele comentou exatamente isso, do “dá cá o bracinho”.
Gente, a minha geração ensinou o mundo a fumar maconha, a transar fora do sagrado matrimônio e a normalizar outras orientações sexuais. Nós trouxemos os místicos, de Castañeda a Lobsang Rampa, as terapias holísticas, o LSD.
Bracinho??
Pois é. Cheguei a conclusão de que ninguém é velho antes de ser tratado como criança. E já tô me preparando espiritualmente para as próximas provas.
Sei que, além de criança, vou ficar surdo, pois vão começar a falar mais alto comigo. E que vou ficar invisível, como o Paulo Henrique Bertolucci, professor titular de Neurologia da UNIFESP ficou ao comprar um carro novo. O comprador do carro era ele, o carro era para ele e o filho o acompanhava por acaso. O vendedor só se dirigia ao filho, como se ele não existisse.
Também sei que posso contar com novos momentos ‘acordaí’, como a surpresa de minha prima americana com o ‘senior discount’ carimbado na conta do restaurante chique onde foi estrear um novo look arrasador.
Só tenho certeza de uma coisa. Enquanto não me for, vou seguir alive and kicking. Ou, como se diz em Natal, vivín e bulindo.
Artigo original de Ricardo Pessoa no LinkedIn AQUI
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