por Mauro Wainstock
Cientistas da Northwestern University estudam esse grupo desde 2000 na esperança de descobrir como eles evitaram o declínio cognitivo típico da idade, bem como distúrbios de memória mais graves, como a doença de Alzheimer. Um novo artigo publicado esta semana resume as novas descobertas.
Os super-idosos são um grupo diverso: eles não compartilham uma dieta mágica, regime de exercícios ou medicação. O que os une é “como eles veem a importância das relações sociais”.
A afirmação é de Sandra Weintraub, professora de psiquiatria e ciências comportamentais da Northwestern Feinberg School of Medicine, que participa da pesquisa desde o início.
Isso está em linha com o pensamento de Ben Rein, neurocientista e autor do livro que será lançado em breve, “Why Brains Need Friends: The Neuroscience of Social Connection” (“Por que os cérebros precisam de amigos: a neurociência da conexão social”). Ele destaca:
“Pessoas que socializam são mais resistentes ao declínio cognitivo à medida que envelhecem”.
De acordo com os pesquisadores, socializar ajuda a proteger contra a redução do volume cerebral que ocorre com a idade e o isolamento. A solidão, particularmente comum em idosos, pode aumentar os níveis do hormônio do estresse, o cortisol, e se ele permanecer elevado por longos períodos, pode levar à inflamação crônica. Isso, por sua vez, pode danificar as células cerebrais e até aumentar o risco de demência. Ao serem mais sociais na velhice, os super-idosos podem evitar parte dessa atrofia.
Uma análise incluída no novo artigo confirma isso: o volume cerebral dos super-idosos tende a ser mais parecido com o de pessoas de 50 e 60 anos do que com seus pares octogenários e nonagenários.
Outra diferença notável é que os cérebros dos super-idosos tendem a ter mais de um tipo especial de célula, chamadas “neurônios von Economo”, que são consideradas importantes para comportamentos sociais e apenas podem ser encontradas em mamíferos altamente sociais — ou seja, macacos, elefantes, baleias e humanos.
Para Bill Seeley, professor de neurologia e patologia da University of California, em San Francisco, “todos esses neurônios von Economo provavelmente os ajudam a construir e manter conexões sociais poderosas e redes sociais fortes e isto pode ter um efeito de longo alcance em seu bem-estar geral e saúde. E isto é apenas uma série de vantagens neurobiológicas que os mantém em tão boa forma nesta fase da vida”.
Quase todos os octogenários têm sinais da doença de Alzheimer em seus cérebros (independentemente de terem a condição), mas alguns super-idosos têm pouco ou nenhum sinal. Além disso, nos cérebros dos super-idosos, o funcionamento de um neuroquímico importante para atenção e memória é melhor preservado.
Sofiya Milman, professora de medicina e genética do Albert Einstein College of Medicine em Nova York, estuda centenários saudáveis. Ela disse que eles também tendem a ser extrovertidos e “ter uma visão positiva da vida”.
É aí que entra o dilema do “ovo e galinha”. Uma pessoa com melhor funcionamento cognitivo pode estar mais disposta a sair e socializar, em comparação com alguém que sente que sua memória está declinando. “Se é a socialização que leva à manutenção de uma melhor cognição ou se é a melhor cognição que leva a mais socialização? Isso ainda está em debate”, ressalta Milman.
Contato: mauro.wainstock@gmail.com
Mauro Wainstock é palestrante e consultor sobre Turnover e Comunicação Intergeracional. Foi eleito o 10º influenciador Mundial em Diversidade e inclusão, nomeado TOP RH influencer América Latina e LinkedIn TOP VOICE (3 selos). É colunista da Exame, membro do Instituto Brasileiro de ESG, da Diversity Board e conselheiro de várias empresas, além de coautor de vários livros.

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