por Maria Luisa Trindade Bestetti
Na velhice, a perda da autonomia é a necessidade de maior cuidado.
Cada vez mais encontramos pessoas que vivenciam a velhice que não têm filhos e permanecem solteiras, nem sempre participantes de comunidades de apoio. Por outro lado, encontramos pessoas que podem contar com o suporte de familiares, amigos e serviços comunitários, situação que encontram ao aderir à convivência com esses grupos. Na pesquisa intitulada Voando Só – experiências de idosos que envelhecem sozinhos, desenvolvida pela organização americana Mather Institute, foi verificada a diferença na qualidade de vida de pessoas idosas solitárias e entre as que são apoiadas pela presença familiar, em especial de filhos, ou por redes de apoio alternativas, com as quais possam contar.
“Este estudo explora as diferenças na forma como os idosos sozinhos e “apoiados”, com 55 anos ou mais, planejam abordar as necessidades e preocupações associadas ao envelhecimento. Os idosos apoiados são casados ou têm um relacionamento de longo prazo, não moram sozinhos e/ou têm filhos adultos com quem podem confiar. Ao identificar as necessidades específicas dos idosos solitários, os gestores políticos, os prestadores de cuidados de saúde e as organizações comunitárias podem desenvolver serviços específicos e apoiá-los.“
Para ambos os grupos as preocupações são semelhantes e dizem respeito à sua autonomia. A perda da capacidade funcional e/ou cognitiva representa a necessidade de maior cuidado, normalmente prestado por outras pessoas, mas nem todos planejam por considerarem a permanência na própria casa.
“Mais de metade tomou medidas, incluindo discutir os seus desejos futuros com amigos e familiares, confiar documentos importantes a alguém e combinar o destino dos seus bens. Mais de metade planeja desenvolver um plano financeiro, identificar potenciais habitações futuras e identificar cuidadores no futuro.“
A pesquisa concluiu que há estratégias de apoio para a manutenção da capacidade dos idosos solteiros de envelhecer bem, sendo elas:
“Concentrar-se na manutenção e melhoria da saúde física para ajudar a retardar a necessidade de níveis mais elevados de cuidados no futuro. (…) Envolver-se em atividades de autocuidado para aumentar e manter o bem-estar psicológico. (…) Estabelecer um plano para o futuro, incluindo considerações financeiras e jurídicas, necessidades de habitação e redes de apoio. (…) Cultivar uma forte rede de apoio social de amigos, vizinhos e membros da comunidade.“
A manutenção da autonomia exige que haja condições de moradia saudável e equipada para oferecer o suporte necessário para evitar quedas, proporcionar noites de sono restaurador, facilidade de manutenção tanto na limpeza quanto na organização, mobiliário adequado e o necessário para oferecer bem-estar e conforto, além da possibilidade de praticar hobbies e atividades prazerosas.
Os contatos sociais dependerão da proximidade de pessoas positivas, capazes de manter um ambiente de solidariedade e qualidade nos relacionamentos. Planejar o futuro pode garantir qualidade de vida na velhice, mesmo morando só.
Artigo original: https://portaldoenvelhecimento.com.br/o-que-e-necessario-para-morar-so-durante-mais-tempo-na-velhice/
Maria Luisa Trindade Bestetti
Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: maria.luisa@usp.br
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