Trabalho 60+ NEWS (8)

O futuro do planeta envelhecido para o Goldman Sachs

Um dos maiores bancos mundiais lançou estudo a respeito do tema e as projeções são positivas, desde que…

Vivemos tempos do “Tsunami Prateado”, ou seja, do processo de envelhecimento populacional, quando mais pessoas idosas do que em outras fases do ciclo de vida estarão vivendo no planeta, um fato inédito na história mundial. Até hoje, esse processo de envelhecimento foi encarado como uma “bomba demográfica”, em especial na área econômica.

No entanto, um olhar positivo sobre o envelhecimento populacional mundial foi o resultado do trabalho conduzido por analistas pesquisadores do Goldman Sachs (banco de investimento multinacional e empresa de serviços financeiros, considerado um dos maiores do mundo) no estudo divulgado em maio deste ano. Uma resposta inusitada e até surpreendente num meio que por ora insiste em enxergar a maior longevidade como um entrave para a economia e um peso para a previdência dos países.

Sobre o estudo, eu me debrucei e percebi uma lógica econômico-financeira que me surpreendeu pela racionalidade, como uma não especialista na área. Também encontrei algumas questões que me fizeram refletir sobre os aspectos humanos, sobre os quais não sei até que ponto foram considerados pelos pesquisadores que elaboraram tal trabalho, mas que a seguir compartilho com você. E outras que me fizeram aplaudir, pois suas indicações são compartilhadas por mim. Porém, para chegar lá, precisamos ir por partes. Combinado?

Por que o mundo envelhece

Existem dois movimentos distintos que se unem para que se produza o chamado envelhecimento demográfico:

Movimento 1: Porque estamos vivendo mais

As pessoas estão vivendo vidas mais longas e saudáveis. É citado no estudo que “nos últimos 50 anos, a expectativa de vida média global aumentou de 62 para 75 anos, com as economias desenvolvidas registrando um aumento de 72 para 82 anos e as economias emergentes de 58 para 73 anos”.

Um aspecto interessante que é abordado no estudo é que estes números com relação à expectativa média de vida global sempre estarão “atrasados”, posto que são uma fotografia do presente, pois a expectativa de vida média global tem aumentado a uma taxa de 0,32 anos por ano desde 1950.

Aqui, um exemplo trazido do estudo: em 1943, a expectativa de vida oficial para as economias desenvolvidas era 21 anos menor do que é hoje, de apenas 61 anos. Só o tempo dirá quanto tempo viverá uma pessoa média nascida em um país de desenvolvimento moderno hoje. Mas, num cenário provavelmente mais otimista, em que extrapolamos a tendência linear que tem ocorrido na fronteira nos últimos 150 anos, a pessoa nascida hoje viveria, em média, até 110 anos, em vez de 82 anos.

Fundamental reforçar que há no meio de tudo isso regiões “pântanos” e “desertos” de vulnerabilidades produzidas por conta das desigualdades sociais, econômicas, políticas, mesmo quando olhamos para dentro dos países desenvolvidos, o que dirá em países pobres e em desenvolvimento como o Brasil. Porém, é inegável afirmar que existem evoluções.

Agora, vou apresentar um argumento do relatório, para argumentar criticamente a respeito. Por favor, te peço atenção.

No estudo, eles afirmam que os “70 são os novos 53”, justificando que as pessoas, além de viverem mais, também estão vivendo vidas mais saudáveis, no sentido de que a capacidade funcional das pessoas mais velhas está melhorando ao longo do tempo. Medidos em anos, esses avanços são maiores do que os aumentos relatados na expectativa de vida, enfatizando a necessidade de focar na idade biológica em vez da cronológica. Para exemplificar: um estudo recente do Fundo Monetário Internacional – FMI, utilizando microdados de indivíduos com 50 anos ou mais (incluindo testes físicos e cognitivos) de uma amostra de 41 economias desenvolvidas e emergentes, descobriu que “em média, uma pessoa com 70 anos em 2022 tinha a mesma capacidade cognitiva que uma pessoa de 53 anos em 2000”, enquanto a fragilidade física de uma pessoa de 70 anos correspondia à de uma pessoa de 56 anos em 2000.

Parada para refletir 1

Aqui, gostaria de refletir sobre a afirmação acima, pois – mesmo com as evidências de maior capacidade cognitiva apresentadas pelo estudo – penso que precisamos considerar todos os tipos de idade que “carregamos” em vez de focar na biológica em vez da cronológica, conforme afirmam os analistas. Somos seres multidimensionais.

Para me fazer entender melhor, conforme a gerontologia, a ciência que estuda o processo de envelhecimento, além da idade cronológica (anos de vida), existe a idade biológica (estado dos órgãos e sistemas do corpo), também existe a idade psicológica (desenvolvimento cognitivo e emocional) e a idade social (papéis e status na sociedade). Todos eles influenciam, de diferentes maneiras e graus, em cada pessoa e de acordo com a cultura e época em que vivemos, sobre como nós nos percebemos e somos percebidos com relação à idade. Assim, como pensar em apenas um tipo de idade para “focar”?

Estudando o idadismo, sabemos o quanto o auto-idadismo contra as pessoas idosas é impactante na idade biológica, por exemplo. Também estamos conscientes de que, a partir do auto-idadismo, se manifesta o idadismo estrutural. Essas camadas de idadismo estão subjacentes se olhadas a partir da idade psicológica e social. Sem considerar por essas lentes, não conseguimos percebê-las. O tema é um pouco mais complexo do que apenas a idade biológica, já que mais adiante levará para uma das recomendações do próprio estudo.

Seguindo adiante no estudo.

Movimento 2: Queda da natalidade

A diminuição do tamanho da população. As pessoas estão tendo menos filhos. Esse movimento ameaça a “taxa de reposição” da população, que especialistas consideram como sendo de 2,1 filhos por mulher.

Conforme apresentado pelo estudo, “ao contrário da percepção comum, os maiores declínios na fecundidade estão ocorrendo em países relativamente pobres, onde as taxas de natalidade são mais altas. Desde 1975, a taxa de fecundidade nos mercados emergentes caiu de 4,6 para 2,2, e nas economias dos países desenvolvidos, de 1,9 para 1,5”. A taxa de natalidade no Brasil em 2025, segundo dados do Censo 2022, é de 1,6 filho por mulher, sendo a menor da história do país.

É importante salientar que, apesar da queda de natalidade, a população global ainda aumentará significativamente pelos próximos 50 anos. Mesmo no cenário de baixa fecundidade projetado pela ONU – que pressupõe que as taxas de fecundidade continuem a cair em relação aos níveis atuais – a população global deverá crescer por mais 25 anos, atingindo o pico em torno de 9 bilhões.

Mas um achado que faz é o de que “a atual taxa de fecundidade global de 2,1 está alinhada com a taxa de fecundidade de reposição necessária para a estabilidade populacional a longo prazo. No entanto, em comum com os dados padrão de expectativa de vida, este cálculo pressupõe que as taxas de mortalidade permaneçam fixas nos níveis atuais. Se, em vez disso, a expectativa de vida aumentar ao longo do tempo, a taxa de fecundidade necessária para equilibrar o número de nascimentos com o número de mortes será significativamente menor, entre 1,6-1,7”.

Uma indicação que o estudo do Goldman Sachs oferta é a de que “a migração internacional pode ajudar a enfrentar os desafios econômicos que as variações na fecundidade entre países apresentam”, porém sabemos o quanto cada vez mais oposição esse tipo de política enfrenta, infelizmente.

Longevidade profissional, uma saída

Para o estudo, considerando que vivemos cada vez mais e mais saudáveis, é necessário investir no prolongamento da vida profissional das pessoas que estão envelhecendo.

Apresenta o Goldman Sachs que “a razão da idade ativa (15-64 anos) dos países em desenvolvimento já diminuiu significativamente. Permaneceu próxima a 67% de 1985 até o início dos anos 2000, mas desde então caiu para 63% e a projeção é de que caia para 57% até 2075. Se assumirmos que o emprego aumenta e diminui proporcionalmente com as mudanças na proporção da população em idade ativa, o declínio na proporção da população em idade ativa que ocorreu já deveria ter reduzido o emprego e o PIB per capita em 6% nas economias dos países em desenvolvimento desde 2000 e reduzirá o emprego e o PIB per capita em mais 10% nos próximos 50 anos (representando um declínio de 15% entre o pico e o vale)”.

Mas não depende apenas da longevidade profissional dos mais velhos…

No estudo, para esse prolongamento da vida ativa, também é assinalada a importância dos esforços para a igualdade da participação das mulheres no mercado de trabalho, já que muitas se veem forçadas a parar de trabalhar após o nascimento de filhos, por exemplo. Pesquisas prévias em estudo específico do Goldman Sachs sobre a participação de mulheres no mercado de trabalho orientam nessa direção.

Outra possibilidade apontada que contribui para uma vida ativa mais longa “tem sido o declínio na parcela da população empregada em trabalho manual. A aposentadoria antecipada tende a se concentrar em empregos que exigem mais esforço físico”. Assim, é percebida a necessidade de investir em educação sobre os trabalhadores desempregados e/ou sem renda para realocação em espaços onde possam atuar de maneira mais longeva.

Parada para refletir 2

Importante reforçar que é por políticas de diversidade e inclusão de pessoas mais velhas, migrantes, equidade entre mulheres e homens, evolução tecnológica e infraestrutura nas condições de vida no mercado de trabalho (com inclusão de quem está desempregado), que o Goldman Sachs indica saídas para os desafios econômicos para que países enfrentem a dita “bomba-relógio” do envelhecimento populacional.

Como se obtém isso? Com certeza haveria muito a se escrever a respeito. Porém, buscando ser o mais breve e direta possível, esforços por meio de políticas públicas e institucionais, investimento em pesquisa, legislação e campanhas de comunicação, são uma base para que possamos construir um plano para superar os desafios a partir dessas recomendações que o Goldman Sachs apresentou.

Existem outros desafios quando se mira o envelhecimento populacional? Certamente. Mas penso que ter um caminho traçado já seria um bom caminho. O Goldman Sachs trouxe luzes a celebrar.

P.S.: os trechos aqui transcritos do Estudo do Goldman Sachs foram livremente traduzidos pela autora.
Referência: link de acesso para o estudo do Goldman Sachs (em inglês).

Todos os textos de Karen Farias estão AQUI.

Artigo original: https://sler.com.br/futuro-do-planeta-envelhecido-para-o-goldman-sachs/

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