TRABALHO60+ (3)

Crise exige rever planos de previdência e bem estar

por Renato Bernhoeft

 

Dois fatores, muito atuais, estão exigindo de todos nós uma importante e criteriosa revisão na maneira como estabelecemos os planos de previdência, e imaginamos as formas de bem-estar que desejamos para o futuro.

Refiro-me a crise financeira mundial que se iniciou em 2008 – e que ainda não está superada –, adicionalmente acompanhada pelo aumento nos índices de longevidade da população. Brasil incluído.

O cuidado em acumular uma reserva financeira que permita manter o padrão de vida na chamada fase do “desfrute”, que, de maneira geral, está sempre combinada com uma preocupação nos cuidados com a saúde, tanto física como mental, tem se mostrado insuficientes para a obtenção de um equilíbrio no bem-estar.

E vale ressaltar que esta não é apenas uma questão de políticas públicas ou da estrutura dos planos previdenciários oferecidos no mercado. É, cada dia mais, uma responsabilidade que cada indivíduo deve assumir no seu planejamento de vida.

Do ponto de vista ideal deveria começar como parte do processo educativo na infância. Ou, mais tardar na etapa da meia-idade, quando se intensificam a consciência e preocupações relativas ao futuro.

Basta um olhar atento ao que vem ocorrendo nos países considerados do primeiro mundo, e que agora necessitam rever suas políticas e práticas de bem-estar. Muitos destes países se viram forçados a ampliar a idade para aposentadoria, além de terem que reduzir os chamados benefícios, que eram assegurados por economias aparentemente saudáveis e em constante crescimento.

Também os asiáticos, bem mais austeros neste tema, já percebem que devem aprender com os erros do mundo ocidental. Segundo declarações de Jin Liqun, diretor do Conselho supervisor do fundo da riqueza soberana chinês, China Investment Corp., “a Europa é uma sociedade de bem-estar desgastada. As leis trabalhistas geram preguiça e indolência em vez de trabalho duro. Por que – questiona ele – alguns povos têm que trabalhar até os 65, às vezes mais, enquanto em outros países eles se aposentam alegremente aos 55, e vão relaxar na praia? Isso não é justo.”

Conclui ele dizendo que “um sistema de bem-estar social é bom para uma sociedade quando ajuda aqueles em desvantagem a desfrutar de uma vida melhor. Mas a sociedade de bem-estar não deveria induzir as pessoas a não trabalhar.”

Um fenômeno similar, e também constrangedor, vem ocorrendo nos Estados Unidos. Segundo artigo recente do “The Wall Street Journal”, “um número crescente de americanos idosos estão fazendo algo que nunca imaginaram: recorrer à família em busca de ajuda financeira. Alguns estão até pedindo aos filhos um lugar para morar.”

Uma pesquisa do Pew Research Center indicou que em 2011, 39% dos adultos com pais acima de 65 anos deram ajuda financeira a eles.

Segundo o Centro de Pesquisa da aposentadoria do Boston College, “a família típica americana está atingindo a idade da aposentadoria com uma poupança insuficiente para manter o padrão de vida. Muitos tiveram suas poupanças destruídas por contas médicas e pela crise financeira. Em alguns casos o dinheiro foi mal administrado.”

É bastante evidente que todos estes depoimentos e declarações reforçam a necessidade de rever alguns princípios que orientaram, até recentemente, as estratégias e decisões relativas ao desejo de manter o padrão de vida conseguido durante a chamada “vida ativa”.

Eis algumas provocações para considerar:

Desfrutar não é um projeto que deve vir após um longo período de trabalho ativo;

O desfrute é parte integral de toda uma vida;

Parar de trabalhar não é solução. O que se deve fazer é alterar o ritmo e se reinventar;

Reserva financeira e boa saúde não são suficientes. É importante encontrar sentido para continuar vivendo com prazer e qualidade;

Tornem-se pais, ou avós, dispensáveis, de forma que as demandas e o afeto sejam espontâneos;

Não adie para um futuro incerto, planos e sonhos do presente;

Fique muito atento para não se tornar obsoleto ou digno de pena.

Enfim, a lista de provocações poderia continuar. Mas estabeleça como um dos seus primeiros compromissos refletir sobre o assunto, ou até uma eventual ampliação da lista.

Lembre, o conforto gera acomodação. Aprendizado e mudanças decorrem do desconforto. Especialmente para os adultos.

 

Autor: Renato Bernhoeft

Fundador e Presidente do Conselho de Sócios da höft consultoria         

Autor de 16 livros nas áreas de Empresa Familiar e Qualidade de Vida.                                      

E-mail: renato@bernhoeft.com                                   

www.hoft.com

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