O aumento na frequência e na intensidade dos eventos climáticos extremos traz um novo desafio para o Brasil: como proteger uma população que envelhece rapidamente em face de riscos ambientais e econômicos cada vez maiores. É com essa preocupação que a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) promovem o Fórum de Seguros, Mudanças Climáticas e Longevidade, durante a realização da COP 30, em Belém/PA.
No ano passado, o país presenciou uma de suas maiores tragédias ambientais, durante as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul. Segundo o relatório “Avaliação dos efeitos e impactos das inundações no Rio Grande do Sul – nov/2024”, liderado por BID e Banco Mundial, com coordenação da CEPAL, Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional e outras agências da ONU, as enchentes que atingiram o estado deixaram quase 2,3 milhões de pessoas afetadas e expuseram a vulnerabilidade da população idosa. Dentre as 183 mortes registradas, 55 foram de idosos, ou seja, cerca de 30%, uma proporção duas vezes maior que a da participação das pessoas com 60 anos ou mais sobre a população do estado.
Os números reforçam uma tendência global observada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (REDESCA): idosos e pessoas com deficiência são os mais vulneráveis em emergências climáticas. Durante visita ao RS, a Comissão constatou que a falta de acessibilidade nos abrigos, a escassez de cuidados médicos e a ausência de medidas específicas de proteção agravaram o impacto sobre esses grupos. Segundo relatório do órgão, o estado gaúcho, que tem 14,1% de sua população formada por idosos, possuía apenas dois abrigos voltados a esse público no auge da tragédia.
Além disso, as doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e problemas respiratórios, se agravaram por causa da interrupção de tratamentos e perda de medicamentos, já que 72% das Unidades Básicas de Saúde dos municípios atingidos ficaram inoperantes, e 13 hospitais regionais tiveram o funcionamento comprometido.
“As mudanças climáticas criam uma nova camada de desigualdade: elas atingem mais quem tem menos capacidade de reagir. E entre esses, os idosos são os que mais sofrem, seja por limitações físicas, pela dependência financeira ou pela falta de políticas específicas de proteção”, afirma o presidente do Instituto de Longevidade MAG, Nilton Molina, que discutiu sobre o tema no dia 11 de novembro, durante a COP30, em Belém, onde participa como debatedor do Fórum de Seguros, Mudanças Climáticas e Longevidade.
Nilton Molina palestrando no Fórum São Paulo da Longevidade, em 2025. Crédito: MAG
Perdas materiais e fragilidade financeira
Além das perdas humanas, o impacto patrimonial também costuma ser severo. De acordo com a avaliação realizada no RS, mais de 155 mil casas foram danificadas e 46 mil destruídas durante as cheias. Embora o relatório não traga recorte etário, ele observa que grande parte das residências atingidas pertencia a aposentados e famílias de baixa renda, muitas vezes sem seguro habitacional.
O patrimônio imobiliário, que não raramente costuma ser a única segurança financeira do idoso, se desvaloriza em situações de desastre ambiental. Segundo a ABECIP (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), imóveis situados em áreas de risco no estado do RS perderam cerca de 10% do valor de mercado após as inundações.
A falta de cultura da população voltada a seguros nesses casos também é um problema que se agrava no contexto de mudanças climáticas. Segundo a FenSeg, apenas 17% das residências brasileiras têm seguro. Isso significa que, a cada desastre, a maior parte das perdas recai sobre famílias e sobre o poder público.
Durante o Fórum de Seguros Brasil–França, ocorrido em junho deste ano, Pedro Farme d’Amoed, CEO da Guy Carpenter, destacou que 95% das perdas no evento climático do RS não estavam cobertas por seguro. “Há um risco de baixa percepção de risco pela população, e o reflexo disso é um abismo entre perdas econômicas e cobertura securitária”, afirmou.
Uma nova complexidade de riscos
Com o envelhecimento da população e o aumento dos desastres naturais, o país enfrenta o que especialistas chamam de “dupla pressão”: de um lado, o custo crescente da previdência e dos cuidados com a saúde; de outro, os prejuízos econômicos e sociais causados por eventos climáticos cada vez mais frequentes. O Fórum Econômico Mundial estima que as mudanças climáticas podem reduzir até 18% do PIB global até 2050, caso não haja adaptação adequada.
Essa combinação exige novas respostas. Além de planos municipais de contingência que incorporem protocolos específicos para a população idosa, é preciso, segundo recomendações do relatório do BID, que a integração entre previdência, assistência social e seguros seja fortalecida. E a REDESCA, por sua vez, reforça a necessidade de abrigos inclusivos, acessíveis e com suporte médico permanente, além da capacitação de profissionais para atendimento especializado.
“Precisamos repensar o envelhecimento sob a ótica da sustentabilidade. Viver mais exige também viver de forma mais segura. Ou seja, com proteção financeira, saúde e resiliência climática. O Instituto de Longevidade MAG tem trabalhado para preparar as pessoas para essa nova realidade”, diz Nilton Molina.
Artigo original do Instituto de Longevidade AQUI

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