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A boca também envelhece e ela importa mais do que você imagina

por Portal do Envelhecimento

A boca é peça-chave para garantir uma longevidade ativa, com qualidade de vida, autonomia e menor risco de doenças crônicas.


Por Isabela Castro (*)

Quando falamos em envelhecer com saúde, é comum pensarmos no coração, nos ossos, no cérebro — mas raramente na boca. No entanto, a saúde bucal é peça-chave para garantir uma longevidade ativa, com qualidade de vida, autonomia e menor risco de doenças crônicas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças bucais afetam cerca de 3,5 bilhões de pessoas em todo o mundo, sendo as cáries dentárias não tratadas a condição de saúde mais prevalente globalmente. A perda total de dentes (edentulismo) atinge cerca de 23% das pessoas com 60 anos ou mais, afetando funções básicas como mastigação, fala e nutrição — e, consequentemente, a saúde física e mental.

A cavidade bucal não é um sistema isolado. Ela participa de funções vitais e está intimamente ligada à imunidade, ao metabolismo e ao equilíbrio de outros sistemas do corpo. Quando negligenciada, torna-se uma fonte crônica de inflamação silenciosa, que potencializa doenças como diabetes, Alzheimer e enfermidades cardiovasculares.

Mais do que isso: problemas bucais “invisíveis” — como abscessos, infecções silenciosas ou dor crônica mal relatada — muitas vezes simulam declínio cognitivo, progressão de demência ou descompensações clínicas. Isso leva a ajustes inadequados de medicamentos, aumento de polifarmácia ou até internações evitáveis. Se identificadas precocemente, essas condições poderiam ser tratadas com simplicidade, evitando sofrimento desnecessário, agravamento funcional e custos elevados ao sistema de saúde.

A boca, quando deixada fora do Plano Terapêutico Singular, fragiliza o todo. É dela que muitas vezes partem infecções respiratórias de repetição, pneumonias aspirativas e quadros de instabilidade clínica, especialmente em pessoas idosas institucionalizadas ou acamadas. Uma boca negligenciada, com milhões de bactérias ativas, pode levar a pessoa idosa a desfechos miseráveis — enquanto uma boca saudável pode sustentar qualidade de vida, autonomia e bem-estar.

Estudos indicam que a periodontite aumenta o risco de doenças cardiovasculares e está associada ao declínio cognitivo. Além disso, a mastigação inadequada compromete a absorção de nutrientes, afeta a saúde intestinal e contribui para deficiências nutricionais, com impacto direto no envelhecimento cerebral.

Em termos econômicos, os custos globais das doenças bucais — incluindo perda de produtividade, internações e tratamentos — ultrapassaram US$ 710 bilhões em 2019, segundo dados recentes publicados na Journal of Dental Research. É um fardo silencioso e crescente.

Assim nasce  o movimento Mouth Matters: para dizer, com todas as letras, que a boca importa. E que, se quisermos envelhecer com dignidade e potência, precisamos olhar para ela com a mesma seriedade que olhamos para o coração ou para o cérebro.

A longevidade começa por uma boca saudável, funcional e valorizada. Porque sorrir, mastigar, falar com clareza e estar livre da dor não são apenas detalhes — são direitos fundamentais que sustentam a vida em todas as suas fases.

(*) Isabela Castro é cirurgiã-dentista e criadora do movimento Mouth Matters. E-mail: castroisabela@hotmail.com.

 

Artigo original: https://portaldoenvelhecimento.com.br/a-boca-tambem-envelhece-e-ela-importa-mais-do-que-voce-imagina/

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