por Renato Bernhoeft
As questões relativas ao envelhecimento têm se tornado, a cada dia, um tema da maior relevância em nossa sociedade moderna. E não apenas quando observado nas perspectivas das estatísticas ou da geriatria.
É assunto que envolve administradores, economistas, publicitários, estrutura familiar, políticos, empresas, mundo artístico, turismo, saúde…enfim, todas as áreas que tem algum interesse ou impacto sobre o comportamento humano.
Mas ao mesmo tempo é tema sobre o qual a literatura e os estudos ainda são escassos. Razão pela qual o livro “A revolução dos idosos – o que muda no mundo com o aumento da população mais velha”, do jornalista e filósofo alemão Frank Schirrmacher, reveste-se de grande interesse para todos nós que participamos, ativa ou passivamente, do mundo atual.
Embora ele trate do tema numa perspectiva da realidade européia, e em alguns momentos mais especificamente da Alemanha, deve ser lido com atenção mesmo nos chamados “países emergentes”, como é o caso do Brasil.
Neste assunto é tudo muito novo, e segundo o autor “todos nós conhecemos a juventude, todos nós já passamos por ela. Observamos os jovens com um sorriso, temos inveja deles e tentamos copiá-los. Todas as culturas conheceram a juventude, porque todo mundo foi jovem algum dia, mas poucos conheceram a velhice. A velhice é na história das culturas e da evolução de nossa sociedade algo muito novo: sempre foi uma improbabilidade de vida e uma experiência de uma minoria. As pesquisas neste campo não têm 50 anos, é uma área que foi até hoje muito pouco explorada. As pessoas idosas de hoje – segundo o biólogo Tom Kirkwood – são a vanguarda de uma incrível revolução de nossa longevidade, elas estão anunciando uma transformação de toda estrutura social e fazendo com que a vida e a morte apareçam sob nova luz.”
Como exemplo de tema muito recente e com forte impacto vale registrar que “foi com grande espanto que o pessoal do New York times leu a recém lançada 11a. edição do Merrian-Webster. Um dicionário é sabidamente uma fonte precisa de dados referentes a transformações sociais, já que é , digamos assim, considerado um recurso material de nosso pensamento. O que faz essa nova edição do Merriam-Webster tão espetacular não é o fato de esse “Aurélio” dos americanos ter registrado nos últimos quatro anos 10.000 novos verbetes, e sim o fato de o número de verbetes das áreas de saúde e medicina ter ultrapassado pela primeira vez os das áreas de tecnologia e informática. E também o fato de que 40% dos termos médicos estão relacionados de um modo ou de outro à velhice.”
Quando olhado na perspectiva da geografia econômica também podem ser previstos alguns impactos que devem afetar profundamente países e suas relações internacionais. “O envelhecimento poderá se tornar – como uma epidemia que contamina o globo – um assunto do noticiário diário. Pois, já que o envelhecimento das sociedades em certos países se opõe, como vimos, às enormes taxas de natalidade e de jovens em outras partes do mundo, tudo indica que os efeitos do envelhecimento serão palpáveis tanto na política interna como na externa. Não é por menos que Peter G. Peterson prevê que a linha de pobreza não será mais a que existe hoje entre o norte e o sul, mas cada vez mais a que existirá entre os países jovens e aqueles com uma população idosa.”
Referindo-se ao mercado especificamente diz Frank que “os executivos da área de publicidade e da indústria do cinema aparentemente ainda não entenderam que a situação mudou. E é deles que depende a maneira de como os idosos do futuro vão viver seus papéis sociais e, mais importante ainda, a maneira de como a juventude que está crescendo será incluída no grande processo de transformação da sociedade. Quem não envelhecer junto com os grupos etários, não terá chance alguma. A população que está nascendo é pequena demais, e seu poder de compra não é suficiente para competir com a dos mais velhos.”
Os impactos serão inúmeros e o autor mostra-se bastante abrangente no tratamento dos mesmos. Inclusive ele relata a atual experiência do preconceito que vem ocorrendo na Europa – Alemanha especialmente – dos mais jovens com relação aos idosos, o que aparece também sob formas de violência.
Falando de algumas questões na estrutura da família Frank cita o sociólogo Peter Schimany, que prevê “uma nova relação histórica de escassez, na qual teremos uma falta de parentes e, principalmente, um desaparecimento de netos. O papel dos avós, com o qual muitos idosos antigamente podiam provar sua utilidade social, terá importância cada vez menor. Muitos avós vão compartilhar entre si poucos netos.”
Nossas sociedades não conhecem transições entre a juventude e a velhice, a saúde e a doença, entre a ingenuidade e a sabedoria. Segundo Frank em nossa sociedade “ a vida está subdividida – como no processo de produção de uma mercadoria – em três partes: a juventude, a vida profissional e a velhice. Nenhuma das partes tem algo a ver com as outras.”
Finalmente vale um registro que consta do livro. Um estudo feito, por 20 anos em uma comunidade do estado americano de Ohio demonstrou que aqueles que consideravam o envelhecimento uma fase realizada de suas vidas e que pensavam de maneira positiva sobre os idosos, vieram, em média, sete anos e meio mais que os que não esperavam nada da velhice.
Portanto, recomendo a leitura de “A revolução dos Idosos” não apenas para aqueles que estão se aproximando – ou já estão – nesta fase. Sua leitura pode abrir inúmeras perspectivas para análises pessoais e profissionais.
Baseado no Livro “A revolução dos idosos – o que muda no mundo com o aumento da população mais velha” – Frank Schirrmacher – Editora Campus – 190 págs.
Autor: Renato Bernhoeft, consultor de empresas
Presidente da Höft Consultoria, membro do FBCGi –
The Family Business Consulting Group International na América Latina
E-mail: renato@bernhoeft.com
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